Manifesto às mulheres

Falo as mulheres.
Tanto para as independentes como para aquelas que se encontram
manietadas, limitadas pela vontade soberana de seu senhor, seja ele um
pai, um filho, um marido, um amante ou um patrão.
Falo as mulheres que no decorrer de sua existência, foram tolhidas em
seus objetivos.
Mulheres que tiveram seus sonhos sufocados, relegados a um segundo,
terceiro ou último plano.
Mulheres que embora dedicadas, fiéis, zelosas, começam e terminam seu
dia ouvindo reprimendas, reclamações, admoestações como se frutos
fossem da imbecilidade total.
Mulheres que após uma vida inteira de dedicação são substituídas como
um chinelo roto.
Mulheres nunca ouvidas, mas com a obrigação de sempre ouvir.
Mulheres cujas opiniões são recebidas ora com gargalhadas, ora com
censura.
Mulheres discriminadas, mal pagas, usadas e abusadas.
Mulheres dirigidas na mesa e na cama.
Mulheres cuja emoção e tida como descontrole.
Mulheres sufocadas, insatisfeitas, mal amadas.
Mulheres envergonhadas, carregando sós o fruto de um momento a
dois.
Mulheres solitárias, abandonadas e ridicularizadas.
Mulheres que carregam sozinhas a culpa de um casamento desfeito, ou
de um aborto.
Mulheres vítimas da incompreensão, do desamor, da arrogância e da
prepotência.
Mulheres cujo sucesso nunca é fruto da competência, mas sempre
resultado de favores carnais.
Mulheres assediadas em seu emprego por chefes mesquinhos, que
incapazes de conquistar uma mulher por seus próprios predicados,
exploram a condição de necessidade.
Mulheres santas e vilãs; doces e mesquinhas; belas e feias; magras e
gordas; donas de casa, executivas, estudantes, balconistas,
camponesas ou operárias; novas e velhas; brilhantes e reservadas.
Todas porém, com seu destino ditado pelos homens.
Desde que o mundo é mundo, os homens nos dizem o que fazer, como
fazer e quando fazer. O que devemos comer, vestir, ler ou dizer, a que
horas deitar, levantar, sorrir, chorar ou amar.
Um filho indesejado ou mal sucedido é apenas da mulher; o filho
vitorioso, ao contrário, é o retrato do pai. O desejo masculino é
natural; o da mulher, doença.
A mulher vitoriosa é masculinizada; o homem frágil é sensível.
Porque as coisas são assim?
Por que permitimos, abdicamos, renunciamos aos nossos direitos,
silenciamos.
Estamos tão condicionadas a sermos tidas como incompetentes,
fingidas, ignorantes, que não acreditamos umas nas outras.
Nós mulheres não confiamos na capacidade de outra mulher.
Inconscientemente ajudamos a fortalecer a discriminação que nos
mantém fora do processo de decisão.
Não somos contra os homens.
Ao contrário, queremos continuar sendo mulher, mãe, amante, o que
for, porém merecendo igual respeito e consideração que um dispensa
ao outro.
Deixar de ser mulher-objeto.
Queremos participar das decisões que influem em nosso destino.
Como alcançar isso?
Dando a outras mulheres a mesma oportunidade que temos dado e
continuaremos dando aos homens nas profissões e funções que
escolhem.
As mulheres no centro das decisões
se prestarmos atenção, vamos constatar que poucas são as mulheres
que se atrevem a disputar um cargo eletivo com um homem, seja para
dirigir uma empresa ou um estado.
Quando o fazem, são ridicularizadas por sua falta de experiência,
criando-se com isto um círculo vicioso: são rejeitadas por falta de
experiência, e não conseguem experiência porque são rejeitadas.
Por outro lado, se apesar dos revezes conseguem alcançar um relativo
sucesso, qualquer desacerto logo é associado a condição feminina,
como se não vivêssemos permanentemente, com os desacertos dos
homens.
Vamos quebrar o círculo
no maior colégio eleitoral do pais, nós mulheres, somos a maioria.
Isto quer dizer que está em nossas mãos, decidir quem deve assumir o
cargo de presidente, governador, senadores, deputados, prefeitos e
vereadores.
Podemos decidir eleições. Vote sempre com consciência, mobilize-se!

Telma ribeiro dos santos
Executiva nacional – PMN – 1990

 

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